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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A comercialização da saúde

 “A instrumentalização do indivíduo à tutela do taylorismo médico-hospitalar transforma o paciente em consumidor”
(Gilberto Dupas)

          No menor tempo possível, utilizando-se de variados meios, busca-se a tão desejada e almejada cura para determinada enfermidade. A medicina passou a ser comparada com atividades ligadas à engenharia, à técnica, buscando alcançar o menor custo-benefício. A era da economia globalizada alcançou a área da saúde, onde muitas vezes, o paciente passa a ser considerado cliente.
          Uma parte muito interessante do livro “O mito do progresso ou progresso como ideologia”, de Gilberto Dupas, trata da mercantilização da saúde. Em determinado trecho, o autor aborda o caso da Inglaterra, demostrando como o neoliberalismo afetou a saúde pública, conduzindo-a para um buraco, do ponto de vista de eficiência e objetividade para com o atendimento às necessidades da população. Vamos, resumidamente, apresentar tal situação. Até 1990, o Serviço Nacional de Saúde (NHS), da Inglaterra, era muito bem-sucedido. Era um sistema barato, empregava uma grande quantidade de trabalhadores e atendia às necessidades da população, disponibilizando consultas, exames e vários medicamentos sem custo algum para as pessoas. Os fornecedores principais eram abrigados ao NHS. No entanto, o NHS era um entrave para o projeto neoliberal, pois este era o comprador principal de remédios, equipamentos e outros suprimentos médicos, podendo impor duras negociações aos fornecedores. Em 1982, alguns serviços hospitalares básicos, como limpeza, alimentação, lavanderia e exames de patologia, começaram a ser terceirizados. O NHS começou a reduzir os serviços. Diminuíram o número de funcionários. Sobrecarregou-se os enfermeiros. O pessoal de apoio foi transferido para empresas externas, com redução de salário. A população passou a ter limitação para alguns serviços, como tratamento dentário. Exames de vistas regulares não eram mais realizados pelo NHS e os óculos para crianças passaram a ser pagos. “A deterioração dos serviços acabou estimulando o interesse pela assistência médica privada e levou à rápida expansão do seguro médico privado”. (DUPAS, 2012, p.194).
          O caso da Inglaterra, relatado anteriormente, não difere muito do Brasil. O neoliberalismo da década de 1990 também afetou o sistema de saúde de nosso país. O nosso Sistema Único de Saúde (SUS) deixa muito a desejar, por esse motivo, também no Brasil, foram muito difundidos os programas de assistência médica privada, os planos de saúde, visando um melhor atendimento das pessoas, quando as mesmas, porventura, vierem a necessitar. Por que muitos indivíduos optam por pagaram um plano de saúde? Porque o SUS não cumpre sua função. E por que o SUS não cumpre sua função? Por que foi contaminado pelo neoliberalismo e o capitalismo consegue lucros exorbitantes por meio de tratamentos de saúde.
          Além do mais, é uma triste realidade ter que admitir que, em muitos casos, determinados médicos diferem suas consultas, dando maior atenção ao paciente quando este está pagando uma consulta particular ou quando possui um plano privado de saúde. “As consultas médicas duram alguns minutos, transmitem-se em segundos informações sobre exames, muitas vezes graves e avassaladoras”. (DUPAS, 2012, p.209). Isso é o resultado da infecção causada pelo neoliberalismo no Brasil e no mundo. Em muitos casos essa situação chega ao extremo, e muitas vezes, por conta da negligência médica, pacientes acabam entrando em óbito, sejam estes, crianças, jovens, adultos ou idosos, fazendo com que suas famílias tenham de suportar a pior dor que pode existir, a dor de perder um ente querido. Quando ocorre uma morte em nossa família já ficamos extremamente tristes, imaginem saber que tal morte poderia ter sido evitada e só não foi porque o atendimento ocorreu pelo Sistema Único de Saúde.
          Outro aspecto interessante nos tempos atuais é a ausência cada vez maior dos chamados médicos “clínicos gerais”. Esses profissionais são muito importantes, pois possuem uma visão muito abrangente em vários campos, não sendo especialistas em nenhum deles, porém tendo o mínimo necessário para detectar certas doenças, assim, podendo encaminhar o paciente para o especialista correto. Na falta do “clínico geral”, o paciente com problemas no estômago, por exemplo, poderá ser atendido, em sua primeira consulta para tentar descobrir sua doença, por um cardiologista, que porventura, poderá ignorar aspectos relacionados ao estômago. Dessa maneira, pode ocorrer a indicação de medicamentos inadequados.
          Muitos profissionais da saúde também não gostam de ser contestados. Muitas pessoas já passaram pela situação de, inclusive, levarem um “pito” de determinado médico, pelo simples fato de dar uma sugestão de tratamento alternativo que ouviu falar ou que pesquisou na internet, tendo de ouvir frases do tipo “o médico aqui sou eu”, “não confia no meu trabalho?”, “isso é coisa sem fundamento”, entre outras do tipo. “A arrogância e a falta de abertura para com técnicas alternativas é uma característica comum da medicina contemporânea”. (DUPAS, 2012, p. 203). Os pacientes pouco são ouvidos. Eles que estão enfrentando um problema de saúde e precisam participar ativamente das decisões, as quais, afetam diretamente sua vida. Até que ponto, por exemplo, vale a pena manter um paciente “morto-vivo” na UTI? Até que ponto vale a pena submeter um paciente a tratamentos longos e dolorosos, obrigado a permanecer em um leito de hospital, com seu corpo disponível vinte e quatro horas por dia, pronto para intervenções sem sessar? “É preciso perguntar a todos os pacientes nessa condição se ainda lhes interessa viver, se a qualidade de vida que levam vale a pena. Essa é uma escolha que só o indivíduo em causa pode fazer; ninguém deve estar autorizado a fazer por ele, nem a equipe médica mais qualificada”. (DUPAS, 2012, p.2012).
          O processo de globalização foi muito importante em muitas áreas, inclusive na medicina, obviamente, no entanto, há que se refletir até que ponto os progressos da medicina valem a pena. Além disso, a saúde não deveria ser banalizada, dando espaço para grandes empresas lucrarem absurdos por conta da enfermidade das pessoas. O ser humano deve estar acima de tudo. Deve ser respeitado, independente do seu estado de saúde, e deve participar de todas as decisões que dizem respeito a si mesmo, com o mínimo de dignidade, tão necessária e tão ausente atualmente.

CRÉDITOS:
Referência Bibliográfica:
DUPAS, Gilberto. O mito do progresso ou progresso como ideologia.
São Paulo: Editora Unesp, 2012.

Um comentário:

  1. É triste como aluno, ver que alguns colegas dizerem que querem ser médicos, apenas pelo salário. E o pior nem ao menos se dedicarem aos estudos para mostrarem que tem "condições" de ingressarem nesta carreira.

    Ass:Vitor

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