Cada vez mais se intensifica a ação russa na Crimeia. Nesta quarta (19), milicianos pró-Moscou invadiram marinha ucraniana em Sebastopol. No último domingo, dia 16, 96,8% da população da Crimeira votou a favor da incorporação da região à Federação Russa. Abaixo, temos a relação de algumas mudanças que podem vir a ocorrer após essa decisão.
O
que muda na Crimeia após referendo aprovar adesão à Rússia
Um
referendo realizado neste domingo (16) na Crimeia, uma República
Autônoma ucraniana de maioria russa, aprovou com 96,8% dos votos a
adesão da região à Federação Russa. O referendo é o ápice de
uma escalada de tensão que atinge a região há mais de um mês, com
uma escalada militar russa e ucraniana na região gerada após a
deposição do presidente ucraniano Viktor Yanukovich.
Apesar
da aprovação por absoluta maioria, o referendo não foi reconhecido
pela Ucrânia nem pela maior parte dos países ocidentais –
incluindo a União Europeia e os Estados Unidos, que ameaçaram a
Rússia com sanções caso ela siga com a anexação da Crimeia.
Moscou
e o Parlamento da Crimeia têm ignorado as declarações
internacionais, e seguiram com o processo de reunificação. A Rússia
cedeu a Crimeia para a Ucrânia em 1954, quando as duas repúblicas
integravam a URSS. Moscou, no entanto, sempre manteve a base de sua
frota do Mar Negro no porto local de Sebastopol. Entenda abaixo o que
pode acontecer após o referendo.
Qual
o papel do governo da Crimeia?
Um
dia após a realização do referendo, o autoproclamado governo da
Crimeia começou a tomar medidas para sua integração com a Rússia.
O Parlamento aprovou por unanimidade a anexação aprovada nas urnas,
se declarou independente da Ucrânia e também determinou
nacionalização de todos os bens do Estado ucraniano em seu
território.
O
documento aprovado pelo Parlamento em Simferopol afirma que as leis
ucranianas não são mais aplicadas na Crimeia e que o governo de
Kiev já não tem nenhuma autoridade sobre a península.
O
presidente do Parlamento da Crimeia, Volodimir Konstantinov, anunciou
a dissolução de todas as unidades militares ucranianas com base na
península e indicou que os soldados ucranianos leais a Kiev deverão
abandonar a península. Aqueles que quiserem poderão aderir às
forças armadas da Crimeia ou da Rússia.
O
que muda para a população?
O
primeiro-ministro da Crimeia, Serguei Axionov, anunciou uma alteração
no fuso horário na península em 30 de março, que passará ao
horário de Moscou (GMT+4), duas horas antes da hora de Kiev
atualmente em vigor.
Anteriormente,
Axionov havia anunciado que o período de transição de todas as
instituições da Crimeia para a Rússia levaria pelo menos um ano.
O
Parlamento anunciou ainda que o rublo é agora a moeda oficial da
república separatista da Crimeia, mas a moeda ucraniana, a grivna,
poderá ser utilizada até 1º de janeiro de 2016. Entretanto, não
foi informado quando o rublo começa a circular na região.
Segundo
o jornal “Washington Post”, as autoridades afirmaram que todos os
funcionários de serviços e empresas públicas continuarão
empregados caso estejam realizando um bom trabalho – e muitos
deverão ter aumentos de salário.
Em
relação à educação, novos livros escolares devem ser
distribuídos, com maior conteúdo dedicado à história russa e sua
versão de eventos como a Segunda Guerra Mundial. Segundo
autoridades, os nascidos na Crimeia poderiam entrar em universidades
russas sem precisar passar por exames de admissão – isso deve
ocorrer por pelo menos um ano.
Segundo
o jornal, ainda não há detalhes sobre a situação de documentos da
população – acredita-se que todos os que são de origem russa e
falem o idioma poderão receber passaportes russos. Aqueles que
preferirem manter seu passaporte ucraniano não serão forçados a
deixar a região, mas não poderão votar em futuras eleições.
A
situação dos transportes também permanece indefinida. Há voos da
Crimeia para Moscou, Kiev e Istambul, além de um trem que segue para
a capital ucraniana. Com a crise e uma possível ruptura com a
Ucrânia, não se sabe se os voos e trens serão mantidos.
As
leis ucranianas e russas são bastante semelhantes, por isso não
deve haver muitas mudanças práticas para a população. Entretanto,
bens como casas, carros e outras propriedades terão que ser
registrados pelas autoridades russas, assim como certidões de
nascimento e casamento.
Qual
o papel da Rússia?
A
decisão final sobre a reunificação é de Moscou – que, no
entanto, sempre afirmou que iria “respeitar a decisão” do povo
da Crimeia.
Para
aprovar a lei de anexação da Crimeia, primeiro será enviado ao
presidente russo Vladimir Putin o apelo da região para se juntar à
Rússia. Se aprovado, Putin o passará às câmaras alta e baixa do
parlamento, que trabalharão em um tratado para ser assinado entre a
Rússia e a Crimeia.
Um
período de transição pode ser definido no tratado para que a
Crimeia integre os sistemas econômico, financeiro, legal e de
crédito do país.
Após
a assinatura do tratado, ele deve ser verificado pelo Tribunal
Constitucional da Rússia e, então, será votado pelas duas casas do
parlamento russo.
Acredita-se
que a anexação será feita sem incidentes por parte da Rússia.
Putin já se disse favorável ao processo anteriormente, e defendeu
em conversas com os líderes ocidentais a legitimidade do referendo e
da reintegração.
O
governo de Moscou também segue tentando um acordo internacional para
que a anexação seja aprovada pelas grandes potências e aceita pela
Ucrânia. A Rússia anunciou ter enviado várias propostas à União
Europeia e aos Estados Unidos, como a formação de um grupo
internacional de “apoio” à Ucrânia para ajudar o país a “sair
da crise”.
Quais
serão as novas responsabilidades de Moscou?
Com
a reintegração da Crimeia à Rússia seria necessário transferir o
gerenciamento de bancos, serviços e transportes públicos, entre
outros, de Kiev para Moscou – uma operação que sem dúvidas será
custosa.
Ainda
não se sabe como o governo russo irá assumir as responsabilidades
ucranianas na região. A Crimeia é totalmente dependente da Ucrânia
- tanto economicamente quanto em termos de infraestrutura. Cerca de
90% da água, 80% da energia e 65% do gás utilizados na península
são obtidos no restante do país, segundo a rede de TV “CNN”.
Seu
orçamento também é gravemente dependente de Kiev – cerca de 70%
dos US$ 1,2 bilhão disponíveis têm origem na Ucrânia.
Segundo
a agência “ITAR-Tass”, um sistema especial de impostos pode ser
criado na Crimeia.
Como
a Ucrânia reagiu?
O
presidente interino da Ucrânia, Olexander Turchynov, chamou o
referendo de "grande farsa" decidida no Kremlin e pediu a
mobilização parcial das tropas para enfrentar a “ingerência da
Rússia nos assuntos internos da Ucrânia”, o que foi aprovado pelo
Parlamento.
Mais
de 40 mil reservistas foram convocados. Os deputados também
aprovaram a utilização de 530 milhões de euros para garantir a
capacidade de combate das Forças Armadas.
Apesar
de a Crimeia ter determinado o desmantelamento das tropas de Kiev em
seu território, o ministro ucraniano da Defesa, Igor Teniukh,
afirmou que as tropas do país permanecerão na Crimeia.
Qual
a reação do Ocidente?
Os
Estados Unidos e a União Europeia não reconheceram o resultado do
referendo, considerado "ilegal segundo a Constituição
ucraniana e a lei internacional".
Um
dia após o pleito, a UE decidiu adotar sanções contra
personalidades consideradas responsáveis pela organização do
referendo. Foram determinadas restrições de viagem e bloqueio de
bens contra 21 pessoas da Ucrânia e da Rússia.
Os
Estados Unidos também anunciaram sanções contra sete altos
funcionários do governo de Moscou e quatro ucranianos, entre eles o
deposto presidente Viktor Yanukovich.
No dia do referendo, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse a Putin que não reconheceria o resultado e que os EUA estão "preparados" para aplicar sanções a Moscou.
No dia do referendo, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse a Putin que não reconheceria o resultado e que os EUA estão "preparados" para aplicar sanções a Moscou.
A
Casa Branca ameaçou cortar o acesso de corporações russas ao
sistema financeiro ocidental - medida que pode afetar os mercados
internacionais.
A
decisão pode ser contestada?
Segundo
os dados oficiais, o referendo teve 96,77% de apoio à integração,
com 81% de participação dos eleitores.
Opositores
do governo russo acusam Moscou de ter pressionado a população da
Crimeia para votar pela anexação à Rússia. Também houve
reclamações de que as cédulas de votação não tinham como opção
manter a situação da Crimeia como a atual, sem mudanças.
Uma
fonte oficial sênior dos EUA disse à Reuters que há evidências
concretas que algumas cédulas de votação chegaram pré-marcadas
aos locais de votação do referendo no domingo, e que outras
anormalidades também foram detectadas.
Os
cidadãos de origem étnica russa formam 58% da população da região
da Crimeia. Entre 12% e 15% são tártaros, um minoria muçulmana; o
restante é de origem ucraniana.
Além
dos ucranianos que disseram preferir ficar sob o governo de Kiev, os
tártaros também insistem em permanecer como parte da Ucrânia e se
dizem preocupados com seu destino se forem obrigados a se integrar a
um novo país. A minoria foi deportada em massa por Joseph Stalin
para a Sibéria e Ásia Central, mas começou a voltar durante os
últimos anos de Guerra Fria.
CRÉDITOS:
Imagem e Referência
Bibliográfica: http://g1.globo.com
Um belo relato sobreos acontecimentos sobre a Crimeia, Gostei muito de ler.
ResponderExcluirUm abraço,
Élys.