“Para ter bom valor como
mercadoria, o conhecimento deveria tornar-se escasso”
(Gilberto Dupas)
Não se pode negar que o
processo de globalização trouxe melhorias nas condições de vida
de grande parte da população mundial. No entanto, também não
podemos esquecer que esse mesmo processo deixou boa parte dessa
população à sua mercê. Ou seja, nem todos os indivíduos foram
agraciados pelos avanços promovidos pela globalização.
O acesso à informação está
cada vez mais rápido e mais prático. Vale lembrar, porém, que boa
parte dessa informação, muitas vezes, não se torna de fato,
conhecimento. Assim como o acesso à informação está ao alcance de
muitas pessoas, o acesso a um “falso conhecimento” também o
está. Foram difundidas pelo país inúmeras faculdades, as quais têm
formado grande quantidade de profissionais. Cursos técnicos também
estão presentes em muitos locais. Cursos de extensão, programas e
projetos diferenciados foram se espalhando. Assim sendo, grande
quantidade de pessoas conseguem atingir certo aperfeiçoamento em
determinadas áreas.
Supomos “falso conhecimento”
anteriormente por acreditar que, em muitos casos não ocorre uma
formação adequada em determinados cursos ofertados por diferentes
instituições. Uma graduação, normalmente, leva quatro anos para
ser concluída. Todavia, é possível observar algumas instituições
ofertarem certos cursos em um tempo menor, como dois ou três anos.
Quando se trata de uma segunda habilitação, fica ainda mais difícil
de acreditar na ocorrência de uma boa formação, pois esse tempo
pode ser reduzido a pífios seis meses, o que é um verdadeiro
absurdo. Aí se pergunta: que profissionais estão entrando no
mercado de trabalho? Não se pode, em hipótese alguma, utilizar-se
de generalizações, porém, grande parte desses profissionais
apresentam formação defasada.
Com toda essa difusão da
formação, ou facilidade para conquistar a mesma, estamos observando
um mercado de trabalho mais carregado de profissionais, digamos
assim. Quanto maior a oferta de mão de obra, mais baixa a
remuneração paga pela mesma. Essa é a lógica do mercado, o qual
domina as sociedades capitalistas. Dupas salienta que “numa
sociedade que tende a gerar contínuo aumento de desemprego, quanto
mais indivíduos habilitados a operar um computador forem
qualificados, mais baixo será o valor de mercado de sua força de
trabalho” (2012, p.153).
Não que seja um erro a formação
profissional para todas ou a grande maioria das pessoas, pelo
contrário. Contudo, em primeiro lugar essa formação deve ser
adequada, quero dizer, de qualidade, atendendo os requisitos mínimos
exigidos para a formação de um profissional extremamente capaz de
desempenhar a função para a qual se formou. Em segundo lugar, essa
lógica capitalista da oferta e da procura não deveria se fazer
presente no mercado de trabalho, pois a mesma acaba por massacrar o
trabalhador e privilegiar o empresariado. Baratear a mão de obra é
um descaso e um descompromisso para com o trabalhador, é uma
tortura, uma grande brutalidade.
Infelizmente, essa lógica
perdura na sociedade brasileira. Vivemos um tempo de barateamento da
mão de obra. Um tempo onde determinados detentores dos meios de
produção se dão ao luxo de vomitar a seguinte frase “se agarre
no que você tem, se tu não quer esse emprego, tem quem queira”.
Revoltante.
CRÉDITOS:
Referência Bibliográfica:
DUPAS, Gilberto. O mito do progresso, ou progresso como ideologia.
São Paulo: Editora Unesp, 2012.
https://m.youtube.com/watch?v=Q9C-ydDj5q0
ResponderExcluirMuito interessante... não havia visto essa abertura. Casa muito bem com o texto. Obrigado!
ResponderExcluir